quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Causos-O Segredo da Fazenda.

Numa cidade do Sertão de Pernambuco, vivia um sujeito pacato que chamarei de Gervásio - esse não era o seu verdadeiro nome, mas quero poupá-lo de um vexame. Pois bem; Gervásio ganhou uma herança e, com o dinheiro, comprou a fazenda que sempre sonhou. Muitas terras, muitos barreiros com água abundante, para ele fazer a criação que sempre sonhou: cabeças e mais cabeças de cabras e bodes. O seu negócio eram os caprinos.
E assim ele foi aos poucos fazendo seu rebanho. À noite, gostava de olhar pela janela lateral da casa da fazenda e contemplar a criação recolhida no curral. Mas, certa vez, viu uma coisa realmente estranha. No meio das cabras, Gervásio divisou o vulto de outro bicho, mais especificamente um jegue. O animal bem maior se destacava no meio da cabraria. Intrigado, o criador foi até o curral conferir. Ele não possuía jerico nenhum, nem alimentava qualquer simpatia por aquela espécie de muar. Contudo, quando ele se aproximou do cercado, nem sinal o bicho alienígena. Tinha desaparecido, o jegue! Sumiu no ar...
Nas noites seguintes, o fenômeno se repetiu. Gervásio via a silhueta do jegue de longe. Mas, quando chegava perto, "canto mais limpo". "Assombração!", ele logo pensou! Coincidência ou não, o fazendeiro estava tento problemas para vender o leite das cabras. Não conseguia escoar a produção - os atravessadores alegavam que o produto não era de boa qualidade, que estava "azedo". Mas como, se Gervásio tomava todos os cuidados recomendados pelo veterinário? Mais uma vez ele pensou: "Assombração!"
Foi à igreja do município e conseguiu com o padre uma garrafinha de água benta. Estava convencido de que o tal jegue assombroso era o próprio "Cão Chifrudo" em formato de bicho. Era o ente infernal que estava azedando o leite das cabras, na visão do criador. Esperou a noite cair e, quando viu o jerico fantasma no curral, partiu para o ataque com o líquido abençoado. Mas a investida terminou em malogro. Quando espargia a água benta, Gervársio foi atingido por um poderoso coice desferido por patas invisíveis! Saiu correndo apavorado - e desmoralizado. Nas noites que se seguiram, o jegue misterioso voltou a aparecer...
A solução apontada por amigos foi convocar uma especialista em casos sobrenaturais: uma rezadeira. Gervásio ficou desconfiado. Entretanto, desesperado como estava, aceitou a proposta. A mulher veio, o olhou a propriedade, deu alguns passes e falou que a origem do problema poderia estar na história da fazenda.
Não foi difícil descobrir que o lugar já tinha sido um abatedouro clandestino de burros. A carne dos bichos era vendida como carne bovina no mercado público. Uma escavação na área do cercado revelou dezena de ossadas - literalmente, caveiras de burro!
Gervásio desistiu da fazenda. Vendeu a área a um desavisado e montou uma revenda de lambretas. Ficou rico! Permaneceu com raiva de todos os jegues.
E você, caro leitor, que se deliciou com esse relato absurdo, fique atento! Não se espante se volta a ver o poodle que está enterrado no quintal da casa da sua avó...

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