domingo, 11 de novembro de 2007

Causos-A Noiva Cadáver de Japaratinga.

Já publiquei aqui o intrigante depoimento do Sr. Jaime Alheiros sobre ocorrências inexplicáveis que tiveram com cenário a bela praia de Japaratinga, no estado vizinho de Alagoas. E num é que Jaime nos enviou outra história que se passa no local? Acho que é, pelo menos, tá intrigante quanto a primeira...Aquelas praias não entregam seus segredos tão facilmente; você pode passar anos sem sobressaltos mas, de uma hora para outra, tudo muda, tudo sempre muda... Analisando sob um prisma lógico, não sou a testemunha mais indicada para relatar esse tipo de evento. Alguns amigos próximos me definem como cético, ou ateu, ou descrente – olha que já me chamaram de muita coisa. Bom, mas não estou aqui para falar de mim, e sim dela. Adolescentes são difíceis de entender. Tínhamos toda a diversão necessária nas cercanias nas nossas casas – boa comida, bebida, companhia agradável. Pois bem, cismamos que Maragogi estaria mais divertida às 22h30 do que estivera à mesma hora na noite anterior, que fora, diga-se de passagem, tediosa. A lua estava cheia e a estrada de areia branca ganhava um tom azulado enquanto seguíamos nosso rumo. Ao menos era uma noite agradável: o vento estava frio, mas não em demasia e as piadas ajudavam a passar as horas. Chegando ao nosso destino constatamos que tinha sido uma perda de tempo. Jogamos umas partidas de dominó, comemos uns tira-gostos encharcados de óleo velho e resolvemos voltar. Na volta, constatamos que a noite já ia alta, a lua estava no auge e praticamente não havia nuvens no céu. Era a receita ideal para uma brincadeira que nosso amigo que dirigia o carro adorava fazer: apagar os faróis e se guiar pela luz do céu sobre a estrada. Realmente, dava para ter boa visibilidade por uns 50 metros ou mais, o contraste do coqueiral escuro e o mato das cabeceiras ajudava um bocado. Nunca curti muito isso, achava perigoso, pois eventualmente víamos pessoas caminhando nas margens mesmo à noite. Estava com isso em mente quando o irmão dele, que vinha no banco ao lado, disse:– Eita, ferro!O instinto foi diminuir a velocidade e acender as luzes. Pronto, lá estava ela. Cruzava a estrada saindo do meio do coqueiral. As vestes eram brancas com saias e mangas compridas; um véu lhe cobria o rosto. O frio correu nas espinhas e as nucas se arrepiaram. Passou na nossa frente sem alterar o ritmo. Seguíamos o movimento dela com as cabeças entortadas enquanto o carro passava, até finalmente a perdermos de vista, completamente, no meio do matagal. Silenciamos uns poucos segundos e logo depois eu soltei um: – Não pode ser...O colega ao lado respondeu, sério:– Pode. Ele era espiritualizado e pediu a todos que entendessem como um sinal...- Sinal de quê, cara-pálida? Uma alma se desgarrava naquele instante, ele falou.- Conversa! Devia ser alguém pagando promessa. Seguimos nosso debate, enquanto os demais permaneciam calados. - Aposto que se a gente voltar vai achar uma trilha no mato.- Ninguém mora naquela área, não tem nem lampião ou lâmpada acesa; nós vimos: estava o maior breu! Na dúvida fomos para nossas casas meio alterados e atendendo os “pela-mor-de-deus, deixa isso pra lá!” da maioria. A madrugada foi longa e a cena insólita martelava nossas cabeças. Com o sol já firme resolvemos que o assunto devia ser encerrado e fizemos as habituais gozações de que “era a irmã de beltrano procurando namorado”. Isso ajudava a tirar as minhocas da cabeça, deixando a situação mais palatável. Por fim, deliberamos que umas agulhas fritas ajudariam a deglutir as dúvidas e sanar divergências. Seguimos para o bar da Bica que fica, coincidentemente, a meio caminho do cemitério. Já havíamos nos acomodado e armávamos as duplas para a revanche do dominó. Nesse instante, o dono do bar com cara enfezada mandou baixar o som e os garçons se ajuntaram aos cochichos olhando para a rua. Instintivamente virei a cabeça a tempo de ver o cortejo descendo o morro. Na frente seguia um pajemzinho todo elegante ao lado da daminha de saia acetinada. De pronto pensei que era um casamento, mas o que os homens de ternos alinhados com cravos brancos nas lapelas, sustentavam pelas alças, não deixaram sombra de dúvida do que se tratava.

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