O Sr. Roberto José de Santana me enviou este relato cheio nostalgia. Uma história encantada que se passa na Zona da Mata de Pernambuco.
Este caso aconteceu com meu avô. À noite, ele sempre contava a história para quem já tinha escutado, e para quem não tinha. No meio da conversa, ficava um pouco em silêncio e depois dizia: “o carreiro tá puxando lenha lá no córrego”. Se alguém se interessava, o velho relatava essa aventura corrida em de 1968.
Eu o chamava de “Vô Amaro”. Era lenhador e carpinteiro. “Cabra” alto e moreno, quando conversava, procurava nunca olhar nos olhos das outras pessoas. Ele me chamava de Beto. Eu estava sempre por perto, que era para ele me fazer uma baleadeira ou me contar causos sobre caçadas.
E foi numa dessas caçadas que se deu o fato misterioso. Meu avô havia estava preparando uma armadilha para apanhar umas pacas ou cotia. Chamou o compadre Zé e, à tardinha, saiu para o córrego que existia próximo ao engenho onde os dois moravam. Lá aprontaram uma armadilha com uma rede e comida para atrair os bichos. Em seguida, voltaram para o engenho para pegar as armas.
Cada um tinha uma espingarda tipo “soca-soca” e um facão. Lá pelas nove da noite, os dois chegaram ao local. Meu avô, como não gostava de subir em árvores, procurou um canto e se aquietou. Já o compadre Zé preferiu subir na árvore e ficar numa rede. Passou o tempo e nada de caça. Beirando a meia-noite, o silêncio era tão grande que chegava a doer na alma. Nem uma muriçoca voava! De repente, meu avô escutou uma zuada vinda lá do fim do córrego:
- Ouuuuu, “bora” Pintado, força Vermelhão!
E lá vinha vindo em sua direção um carreiro guiando três parelhas de boi que puxavam toras de madeira. Ele gritava os nomes dos bois e, com um facão na mão, abria a picada para as parelhas de boi passar. Os animais chegavam a bufar para puxar a carga ladeira acima. Vô Amaro não conseguia acreditar naquilo: um carreiro, com três parelhas de boi, puxando madeira ali no engenho?
O comboio parou quando chegou a uns quatro metros dele. Meu avô olhou para ver se era alguém conhecido. Mas o carreiro não tinha rosto: só uma mancha negra com um chapéu surrado encima! Vô Amaro disse que não conseguiu se mexer. Só escutou quando o carreiro gritou com voz gutural:
- Vermelhão, Pintado, Mimoso...
Chamou o nome de cada boi. Os bichos esturraram e continuaram no caminho. Vieram para cima do meu avô, que sentiu quando o carreiro passou com as parelhas de boi cruzando seu corpo e sua alma! Tranqüilamente, o carreiro seguiu seu rumo. Vô Amaro ficou paralisado até que, de repente, caiu de cima da árvore o compadre Zé. Com os olhos arregalados, ele gritou:
- Compadre, o senhor viu a zuada e o vento que deu e quase arrancou o pé de pau?
Foi quando meu avô voltou ao normal, olhou para trás e ainda ouviu o carreiro gritar:
- “Bora” pintado...
Vô Amaro pegou a espingarda, botou nas costa e chamou o compadre para voltar. Seguiram em silêncio até o engenho. Mas meu avô nunca esqueceu o ocorrido.
Agora, escrevendo, parece que tô escutando ele contar tudo de novo...
domingo, 7 de outubro de 2007
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