Há uma mania atávica da crônica contemporânea, e me incluo nisso, de se viciar em certos assuntos recorrentes. São Paulo disparado, Corinthians em crise, Luxemburgo, Obina, Renato Gaúcho, Grêmio raçudo, Inter classudo e um terceiro continente à sua escolha.
Eis que me pergunto: e o Náutico?
O Náutico calou a boca dos apressadinhos de maio. Estava em penúltimo lugar, já rebaixado pelos críticos de boca grande e pelos rivais rubro-negros. Listavam no rol da sarjeta o pobre diabo América de Natal, mais Náutico, Juventude e um quarto continente à sua escolha.
Só que o alvirrubro, dono de um hexa que é um luxo, ligou o dane-se e foi à luta. Comandado por Roberto Fernandes, que é torcedor do N-A-U-T-I-C-O, o terceiro time mais popular do Recife venceu 5 partidas seguidas, deixou a zona de rebaixamento e já sonha até com uma inédita Sul-Americana.
Uma lição extra-futebol. Quantas vezes nos sentimos derrotados e simplesmente desistimos antes de lutar? Quantas vezes os amigos, também cansados da guerra, nos convencem a pular do barco? Quantas vezes o peso do fracasso próximo impede a batalha pelo sucesso improvável?
O Náutico pôs o bloco na rua e iluminou sua fuga da Segundona. O gringo Acosta resolveu acertar tudo com suas pernas longas, Felipe, que não é de hoje que vem jogando bem, voltou a acertar o pé, Radamés, tão novo e tão rodado, deu segurança e correria à métrica pernambucana. E Kuki saiu.
Kuki muito ajudou o Náutico nos últimos anos. Mas criou-se uma Kukidependência mais nociva que saudável. O artilheiro migrou para o rival Santinha, luta na Segundona para subir e, quem sabe, fazer de 2008 um ano histórico, o ano em que Pernambuco voltou a ter seus 3 times grandes na elite do futebol brasileiro.
E não custa lembrar e elogiar o brio de um time que foi chacota nacional ao perder a Batalha dos Aflitos para o Grêmio. Depois daquilo, quando a recomendação geral era para o centenário time do aristocrático bairro dos Aflitos fechar as portas e desistir do futebol, o time de Barbosa Lima Sobrinho, da Condessa Prosini, da moçoila grega e quem sabe, do meu amigo lá de cima simplesmente deu uma lição cinematográfica. A volta do morto-vivo. Muito mais vivo do que nunca.
terça-feira, 2 de outubro de 2007
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